terça-feira, 29 de maio de 2007

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Introdução

A diversidade entre os seres humanos sempre foi alvo de estudos / discussões e os temas variam desde humor negro até questões biológicas e sócio-culturais. Uma das maiores controvérsias acontece quando comparamos homem e mulher, tanto que o conceito de gênero surgiu em função (entre outros motivos de ordem política) da subordinação e da desigualdade existente nas relações entre os sexos. Durante muito tempo as mulheres foram consideradas seres inferiores física e intelectualmente, sendo submetidas a uma condição de subserviência. Para elas eram reservados os papéis de esposas e mães, não possuíam o direito de estudar ou trabalhar, não podiam votar ou debater temas como violência e sexualidade.

O incentivo a prática desportiva para as mulheres teve início na década de 30. Isso gerou duas correntes. Uma de incentivo, que via o esporte como meio de socialização e prática de atividade física; e outra totalmente contra, que temia quebrar paradigmas sociais e sexuais instituídos para cada sexo. Isto fez com que a participação significativa de meninas e mulheres nas competições ocorresse somente 40 anos depois (década de 70). Atualmente as atividades atléticas estão muito mais acessíveis e tem demonstrado resultados surpreendentes, levando os pesquisadores a se questionarem sobre as diferenças na capacidade física entre mulheres e homens. Os temas mais abordados têm sido com relação à composição corporal e desempenho atlético. Neste texto tentaremos esclarecer algumas dúvidas sobre a diferença entre mulheres e homens quando comparamos a qualidade física força.

O número de mulheres que utilizam o treinamento de força como parte do seu planejamento desportivo, condicionamento físico e estética tem aumentado consideravelmente. Uma prova é a crescente utilização das academias (salas de musculação), centros de treinamentos (atletas) e uma maior popularização das provas de fisiculturismo, levantamento de peso e os concursos de fitness.

Quando ouvimos falar em força, as mulheres são sempre consideradas o sexo frágil. Nos primeiros estudos, os resultados afirmavam que os homens eram, para membros inferiors, 30% mais fortes que as mulheres e no caso dos membros superiores estes valores chegavam a 60% (Wilmore e Costill 2001). Será isto sempre verdade?

Variáveis que influenciam na força muscular

A força muscular depende de muitas variáveis como: tipo de contração realizada (concêntrica, excêntrica, isométrica), segmento corporal, tipo de movimento, sistema de alavancas, tipo de teste (tabela1) e proporção de massa corporal magra.

Tabela 1

Referencia Movimento Tipo de teste Mulher % do homem
Cureton et al 1988 Extensão do cotovelo 1RM 42
Miller et al 1992 Extensão do joelho 1RM 62
Miller et al 1992 Extensão do joelho IM 52
Colliander e Tesh 1990 Extensão do joelho PTIC 60° 69
Wilmore 1974 Supino 1RM 37

Por exemplo, a força da mulher no teste de 1RM em uma máquina extensora não chega a 50% da dos homens (Cureton et al 1988); no entanto, o pico de torque concêntrico, na mesma máquina, em 90°/s das mulheres é de 78% do torque dos homens (Colliander e Tesch 1990). Wilmore em 1974 relatou que 1RM do supino das mulheres é 37% do supino dos homens. Se o valor da carga for expresso relativamente à massa corporal magra, esse valor aumenta para 46/55%. Já a força isométrica máxima no movimento de pressão de pernas equivale a 73% dos valores masculinos, chegando a 92 /104% quando comparadas de forma relativa (massa magra).
Na verdade as qualidades inatas do músculo e seus mecanismos de controle motor são similares para as mulheres e homens, como verificou Schantz et al em 1983, através de tomografia computadorizada. Outros dados deste mesmo estudo confirmaram que os níveis absolutos de força foram maiores nos homens, porém não observaram diferenças quando a força foi expressa por unidade de área do músculo.
Outros fatores que podem influenciar no desenvolvimento da força muscular são: recrutamento e sincronização de unidades motoras (McDonagh e Davies 1994), comprimento inicial do músculo ativado, ângulo e velocidade da ação articular, armazenamento de energia e mudança no comprimento do músculo (Wilmore e Costill 2001). Não podemos esquecer que o treinamento (musculação) também influencia na quantidade de força.

Principais Alterações promovidas pelo treinamento de força em mulheres:

Ganho de força (próximo ao dos homens);

Perda de massa corporal total (ficam aparentemente mais magras);

Perda de massa gorda;

Perda de gordura relativa;

Ganhos de massa magra isenta de gordura;

Tecido ósseo e conjuntivo sofrem alterações (aumento da densidade óssea);

Diminui o risco de lesões (esporte);

Aumenta o metabolismo de repouso (contribuindo para o emagrecimento);

Curiosidades

*Segundo Wells 1978, as mulheres são tão ou até mais beneficiadas com o treinamento de força quanto o homem.
*Treinamentos de força para mudanças na composição corporal são da mesma magnitude em homens e mulheres (Fleck & Kraemer 1999)
*Em um treinamento de força idêntico as mulheres ganham força muscular na mesma velocidade ou maior do que os homens (Cureton et al 1988).
*Em geral ambos os gêneros tem o mesmo % de fibras tipo I e II (Drinkwater, 1984).
*Os homens em repouso têm 10x as concentrações de testosterona das mulheres (Wright, 1980). Isto pode explicar os maiores ganhos de hipertrofia muscular nos homens.

Masculinização

Atualmente há uma preocupação das mulheres quanto a ficarem masculinizadas, mas não há motivos para se preocupar, uma das razões são os níveis baixos de hormônios masculinos (10x menos testosterona). No entanto essas diferenças hormonais não significam que seja impossível para a mulher ganhar massa muscular. Existem fatores de crescimento como a isoforma autócrina/parácrina do IGF-1 (tipo insulina), liberados em decorrência do treinamento de força (musculação) que atuam diretamente na região estimulada, sendo considerado por diversas pesquisas científicas como um fator essencial do processo de hipertrofia muscular. O importante é direcionar o treino para que os objetivos sejam atingidos.

Conclusões

Os níveis de força das mulheres, quando comparados de forma relativa, podem ser iguais ou maiores que os dos homens principalmente nos membros inferiores, porém inúmeras são as variáveis (intrínsecas e extrínsecas) que influenciam na mensuração desses valores.

O índice elevado de ganho de massa muscular é genético, e caso a hipertrofia ocorra de maneira acentuada (que é difícil) é possível de ser controlado com o treinamento. O que não pode acontecer é um treinamento com sobrecargas inferiores a recomendada (exemplo- executar 8 repetições com carga para 15), pois assim dificilmente os benefícios do treinamento serão otimizados.

REFERÊNCIAS:

COLLIANDER, E.B.,AND TESC, P.A.,1990. Responses to eccentric and concentric resistance training in females and males.Acta Physhiologica Scandinavica. 141:49-156
CURETON, K.J; COLLINS, M.; HILL,D.W and MCELHANNON, F.M.1998. Muscle hypertrophy in men and women. Medicine and science in sports and exercise 20:338-44
DRINKWATER, B.L.1984. Women and exercise: physiological aspects. In exercise in sport science reviews, ed. R.L. Terjung, 20-52. Lexington, KY: Mal Callanore Press.
FLECK, S & KRAEMER, WJ. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. Porto Alegre, Artmed, 1999.
MCDONAGH, M.J.N E DAVIES, C.T.M (1994). Adaptive response of mammalian skeletal muscle to exercise with higt loads. Euroean Journal of Applied Physiology.,52, 139-155.
MILLER, A.E.J.; MACDOUGALL,J.D.; TARNOPOLSKY, N.A.; AND SALE, D.G. 1992. Genber differences in strength and muscle fiber characteristics. European journal applied physiology. 66:254-62.
SCHANTZ, P., RANDALL-FOX, E., HUTCHISON, W.,TYDEN, A., E ASTRAND, P. O (1983). Muscle fiber type distribution, muscle cross-sectional area and maximal voluntary strength in humans. Acta Physiologyca Scandinavica, 117, 219-226.
WELLS, C.L. 1978. The female athlete: Myths and superstitions put to rest. In Toward an Understanding of Hum Man Performance, ed. A.burke, 37-40. Ithaca, NY; Movement Press.
WILMORE, J.H. (1974). Alteration in strength, body composition and anthropometric measurements consequent to 10 week weight training program. Medicine and Science in Sport, 6, 133-138.
WILMORE, J.H.; & COSTILL, D.L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. São Paulo, Manole, 2002.

Professora:
Elke Oliveira
Membro do Gease
Coordenadora Academia Malhart
Personal Trainer


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